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MIOPIA EM CRIANÇAS PELO USO EXCESSIVO DE CELULAR

 

Miopia, uma doença boazinha? Não mais.

Por Luiza Filgueiras Bicalho*

Quem foi criança há pelo menos duas ou três décadas pouco se deparava com colegas ou familiares com miopia e quando acontecia não era um grande problema. Realmente não era. Usava-se óculos e estava tudo certo. Até a idade adulta a doença evoluía lentamente e se estabilizava em um grau e meio, dois, três graus, quando muito.

Mas, infelizmente, não trago boas notícias. Venho alertar para algo que ainda há tempo de se remediar, mas se nada for feito só vai restar lamentar depois. Estou me referindo a um número enorme de pessoas com miopia, especialmente crianças, adquirida pela esforço excessivo do olho para ver de perto as telas dos dispositivos eletrônicos.

Tenho visto, em consultas de rotina, crianças entre cinco e seis anos já apresentando dois a três graus de miopia. Em apenas seis meses o grau se eleva para dois e meio, três e meio, até quatro graus e meio. Isso claramente se configura como uma miopia diferente daquela típica dificuldade de ver de longe, que é facilmente corrigida com o uso de lentes corretivas. Definitivamente não se trata da doença “boazinha” de antigamente.

Agora estamos lidando com a Miopia Progressiva Maligna, um tipo que duplica o grau por ano, e pode até levar à cegueira, se não cuidada a tempo e se não avançar para outras complicações como glaucoma (uma espécie de machucado no nervo óptico, que atualmente é a maior causa de cegueira irreversível do mundo) e descolamento de retina, por exemplo. Hoje posso afirmar, sem medo de errar, que estamos vivendo uma epidemia de miopia e, possivelmente, veremos crianças condenadas a chegar com 18 graus de deficiência visual aos 20 e poucos anos.

Estudos apontam que a miopia é um dos distúrbios oculares mais comuns no mundo e a sua incidência aumenta em larga escala em todo o planeta. Uma destas publicações, da The Association for Research in Vision and Ophthalmology (ARVO), de Maryland (EUA) em abril de 2021, estima que a disfunção afetou cerca de 30% da população mundial em 2020 e que esta proporção deve chegar em 50% em 2050.

O esforço do olho para ler e assistir de perto os conteúdos das redes sociais, os joguinhos de celulares e tablets por um tempo prolongado, não é o único problema. Nesta conta entra também a ausência de exposição à luz natural, protetora dos olhos, situação que se agravou com a pandemia da Covid-19. A combinação destes dois fatores é a mistura potencialmente explosiva que está gerando a epidemia de miopia.

Admito que é muito divertido estar diante de uma tela. Porém, a textura de camada do olho humano não comporta este tipo de esforço prolongado, principalmente o das crianças por ainda estar em formação. É como querer esticar uma massa de pizza tamanho P para chegar ao tamanho G. Ao se tornar fina e frágil a parede que reveste o olho dessa criança vai esticar e desprender, promovendo o que conhecemos como descolamento de retina. Essa camada sensorial dos olhos, que precisa estar intacta e perfeita, quando se descola provoca a interrupção do impulso nervoso.

Por isso é preciso pausar, olhar para longe, conversar com as pessoas, sair para o ar livre, se expor à luz do sol.  O excesso de acomodação do olho para olhar de perto e o enfurnamento dentro de casa, sob luzes artificiais, é a combinação perfeita para o desastre.

Como dito antes, a iminência do desastre é real e só não será maior se o alerta for recebido com responsabilidade por pais, avós, professores e profissionais de saúde. A detecção precoce da miopia faz a diferença no futuro da criança. É preciso que os pais estejam alertas porque às vezes a  criança não dá sinais de que está enxergando mal no início do processo. O mundo dela é único e ela pensa que todas as pessoas enxergam assim. E é neste mundo especial que devemos entrar para combater os riscos.

*Luíza Filgueiras Bicalho é oftalmologista, membro da Academia Americana de Oftalmologia e autora dos livros,Os 12 Mandamentos para Dominar o Glaucoma” e ”Os 9 Erros Cometidos Pelo Portador de Glaucoma”.

 

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